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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Carta aberta

Aos colegas e companheiros,
Ao iniciar esta pequena carta muitas palavras vêm em minha mente, muitas de revolta, mas são as de tristeza que predominam. Aos colegas que conhecem minha curta trajetória nesta Universidade, quando entrei no curso de Direito em 2007, podem imaginar um pouco de como me sinto hoje.
Ao entrar na Universidade, lembro-me com certa nostalgia, fui surpreendido pela facilidade do debate de idéias e ideais que fluíam da Universidade, fiquei maravilhado em sentir a liberdade do pensamento, as diversidades de posições e a segurança de exercer o meu direito de opinar sem ser repreendido pela professora do primeiro horário da segunda-feira, então monitora, ou pela Diretora da Escola. Era outro mundo.
Neste embalo de emoções e ideais, enveredei na luta pela educação, defendendo uma Universidade emancipadora, pública, gratuita e de qualidade.
Enquanto estudante fui incansável na luta pela qualidade do curso – que passou por momentos críticos – fazendo parte do Centro Acadêmico de Direito, participando do Diretório acadêmico e sendo Conselheiro do Conselho Superior do Campus de Santarém, este em particular guardo importantes ensinamentos extraídos da riqueza do debate e das contradições, em que atentamente ouvia o discurso do Profº. Machado que defendia sem descanso o seu Curso de Física Ambiental, a Profª Raimunda e Fátima Lima com seus belos ensinamentos de concepção de Universidade, os sempre coerentes discursos do Professor Hugo e os homéricos debates travados com a Profª Marlene – então Coordenadora do Campus – com quem sempre soube lidar com os contrários, separando as coisas quando entrava na sala para ministrar aula.
Sei que muitos podem ridicularizar este breve historio, mas tenho a certeza de que mais ainda serão aqueles que lembrarão com saudosismo daquela época em que o ar de democracia não era rarefeito.
A UFOPA sempre foi uma constância em nossos pensamentos, lutamos por ela, fomos à rua para cobrar sua instalação e exigir um terreno para sua implantação. E conseguimos transformar o sonho de ter uma Universidade no Interior da Amazônia em realidade.
Logo começaram a sair os concursos e uma nova cara a Universidade adquiriu, com muita alegria pude comemorar minha aprovação com a maior nota para o cargo ao qual me inscrevi no primeiro concurso da Universidade.
Mas o sabor do sonho logo foi se amargando e de uma maneira surpreendente rápida transformado no pesadelo em que hoje nos encontramos dentro.
Instaura-se uma nebulosa pedagogia do medo, onde o autoritarismo com sua face mais dura é travestido de defensor da legalidade, em que a democracia e a manifestação do pensamento são “pedagogicamente” desincentivados e a concepção de Universidade plural e libertadora tratada como inimiga da ordem.
Deveria está preparado para friamente receber a notificação da sindicância, sempre fui muito pávulo com os conhecimentos que meu curso oportunizou, mas confesso, não estava preparado para tudo isso.
É com tristeza que recebo minha notificação, mas é com maior tristeza que assisto a este arrepiante filme de tragédia a qual nossa UFOPA estréia como protagonista.
Agradeço a todos que se solidarizam a mim e a estes prometo:
NÃO NOS CALARÃO!
Santarém, 20 de abril de 2011
Wallace Carneiro de Sousa
Técnico Administrativo em Educação/PROAD
Coordenador do DCE/UFOPA

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